Cem Anos de Propaganda de Medicamentos no Brasil Uma história de frases e efeitos! Mestranda da Universidade Metodista de São Paulo/UMESP
Esse estudo é parte integrante do projeto de dissertação de
mestrado sobre a configuração do slogan publicitário na indústria
farmacêutica no Brasil. Tem como proposta resgatar a História da
Propaganda de Medicamentos no país, através de marcas e slogans que
marcaram época em nossa propaganda. Com a pesquisa bibliográfica
pode-se notar que a propaganda de medicamentos sempre utilizou-se de
fortes manifestações de persuasão, como por exemplo os slogans,
também conhecidos por frases de efeito, instrumentos persuasivos e
Muito presente nos primeiros anúncios de medicamentos no
Brasil, o slogan tem uma presença marcante nos Cem Anos de
Propaganda de Medicamentos no Brasil.
Palavras-chave: comunicação – slogans - propaganda de medicamentos
A indústria farmacêutica, que viu nascer o século, acumulou muito
da prática artesanal e empírica. Inicialmente conhecida como botica
(nome dado à farmácia administrada por famílias) a indústria
farmacêutica passou os trinta primeiros anos deste século produzindo
remédios através de insumos extratos vegetais e produtos de origem
Sua evolução, assim como a da propaganda brasileira, aconteceu
gradativamente. Hoje, falar de propaganda sem falar dos primeiros
anunciantes, ou seja, medicamentos (os populares remédios) é
Só para se ter uma idéia, a principal publicação sobre doenças data
de 1889: “O Farol da Medicina”, que tinha como anunciantes o Pó da
Pérsia, Bálsamo Maravilhoso do Unguento Santo, Óleo de Fígado de
Bacalhau, Magnésia Fuida e, mais tarde o Xarope Bromil.
(SGANZERLA, 1999, p 5). Portanto, o medicamento faz parte da
comemoração dos Cem Anos de Propaganda no Brasil. 1900/ 1930 – “Larga-me.deixa-me gritar!.”
Esse era o slogan do Xarope São João, de 1900, veiculado na
“Revista da Semana”, Rio de Janeiro. Esse xarope utilizava-se da imagem
de um homem, como se estivesse amordaçado, significando a ameaça da
tosse, bronquite, rouquidão. O xarope era o grande salvador. O texto
ainda dizia frases como: “.é a única garantia de sua saúde.é oremédio científico,apresentado sob a forma de um saboroso licor. Oúnico que não ataca o estômago, nem os rins.” Um anúncio com
ameaças ao consumidor, alémdetantas promessas, tantas certezas, hoje,
com o Código de Defesa do Consumidor e o CONAR, certamente não
A característica da indústria farmacêutica na propaganda em
utilizar a dor como vilã e o medicamento como salvador atravessou anos.
Para Temporão (1986, p 45) o tipo de mensagem publicitária utilizada
nesses tempos era informativa, mas dentro do componente escrito, sempre
havia um destaque especial à marca e ao slogan. O componente icônico
era um desenho, quase sempre mostrando um certo exagero.
O destaque para os anúncios, com uma melhor elaboração, se deu
na chegada das revistas: “Revista da Semana”, “O Malho”, “Cri-Cri”, “A
Careta”, “Fon-Fon” e, em 1910, com o semanário “A Lua”, trazendo nas
últimas capas, em quase todas as edições, anúncios do Xarope Bromil,
famoso pelo slogan: “cura a tosse em 24 horas” e Saúde da Mulher, o
famoso preparado também conhecido pelo “infalível nas moléstias das
Entre 1913 e 1914, com a chegada da A Eclética, a primeira
agência do país, a propaganda passou a ser mais respeitada. Durante a 1ª
Grande Guerra (1914/18) a linguagem dos anúncios, principalmente os de
medicamentos, parecia nitidamente ligada ao período conturbado em que
o mundo encontrava-se. Santogen “dá auxílio e levanta exaustos os que
caem por falta de energia e vitalidade”; Alcatrão-Guyet “a polícia dos
pulmões”; Rhodine “em nada se parece com outros comprimidos”;
Urudonal “lava o sangue, amacia as artérias e evita a obesidade” e Xarope
de Grindélia “pedir e exigir sempre contra tosse” (RAMOS, 1996, p 25 -
Em 1919 surgia o grande anunciante do setor: Bayer. Com
campanhas regulares, a empresa alemã, chegava ao mercado investindo
alto em publicidade. Em 1920, Aspirina fez 23 anúncios com temas
variados resultando em campanhas de sucesso. A Bayer destacava-se pela
originalidade dos textos e pela qualidade gráfica dos anúncios. Era
característica sua associar seus produtos a palavras como: original, puro,
científico, para contrapor os produtos nacionais. Eram muitos os produtos
da Bayer: Adalina “a fonte da juventude eterna”; Bayaspirina “silêncio”;
Instantina “num instante vae-se o mal” e outros, sempre utilizando a
marca e reforçando-a com um slogan.
Vale destacar que nessa época os redatores publicitários, na
verdade, eram escritores, literários, poetas brasileiros que, mesmo sem
experiência na linguagem comercial, tinham o dom da palavra e sabiam
expressar-se muito bem. O tom exagerado, poético, cheio de rimas
pertencia na verdade aos redatores da época: Casemiro de Abreu, Lopes
Trovão, Emílio de Meneses, Basílio Viana, Olavo Bilac, mais tarde,
Verdadeira obra prima da publicidade brasileira, Jeca Tatuzinho é
criado por Monteiro Lobato para Biotônico Fontoura “o mais completo
fortificante”. O personagem ficou famoso e a marca não menos conhecida
e consumida durante gerações. Até hoje, personalidades como Angélica e
Sandy e Júnior cantam o jingle que encantou gerações: “B A Ba, B E Bé,1930/1960 – “ Melhoral, Melhoral é melhor e não faz mal”
Em meio à crise de 30, devido à Revolução, o rádio desponta no ar
sem deixar de lado os jornais do século passado e as revistas do início do
século. Os slogans antes lidos e interpretados tinham então uma
sonoridade especial. Eram falados por locutores, cantados nos jingles e
repetidos pela população. O mercado de medicamentos industrializados
passa a ser ampliado, baseando-se na propaganda popular. Amplia-se
também o número de farmácias nas principais capitais. Os bondes
(grandes “veículos” publicitários) tinham como anunciantes: Lugolina e
Rhum Creosotado, os textos eram tão famosos e repetidos que até as
crianças saiam falando. ( TEMPORÃO, 1986, p 60-61).
O rádio conseguia a atenção de todos. Através das radionovelas,
reunia toda uma família em volta do aparelho. Essa credibilidade atraia a
indústria farmacêutica que, como grande anunciante da época, passava a
patrocinar os programas. No período de 30 a 50 o rádio alcançava a
glória, com centenas de emissoras espalhadas pelo país. Radionovelas
como: Renúncia, Céu cor-de-rosa, Helena, O Direito de Nascer faziam
grande sucesso e programas como o de Orlando Silva tinham como
patrocinadores: Fandorine e Urudonal, além de Sidney Ross, um dos
maiores anunciantes de rádio, com sua Pílulas de vida do Dr Ross “fazem
bem ao fígado de todos nós”( TEMPORÃO, 1986, p 64).
O rádio, mesmo misturando notícias da guerra (Segunda Grande
Guerra - 1939/45) com radionovelas, contava com grandes anunciantes.
Era um momento diferente, mais criativo para a propaganda, que
misturava informação com imaginação. Ricardo Ramos (1996, p 47)
registra esse período como o mais criativo em slogan. O Repórter Esso
era “o primeiro a dar as últimas” e “testemunha ocular da História”.
Nesse contexto surgem as Pastilhas Minorativas “posso sorrir
outra vez” e o Colírio Moura Brasil “2 gotas, 2 minutos, 2 olhos claros e
bonitos”. Utilizando uma linguagem mais suave, como se nada estivesse
Enquanto isso, anunciantes do rádio mantêm-se fiéis ao estilo
tradicional, hoje considerados como verdadeiros clássicos da propaganda
brasileira: Melhoral “é melhor e não faz mal” e Pílulas do Dr Ross
“pequeninas, mas que resolvem” (TARSITANO e FEITOSA, 1998, p
Em 50, com a chegada da televisão, começava uma nova era
eletrônica. Com textos ainda radiofônicos e muitas falhas (por ser ao vivo
e não ter video tape, que só surgiria uma década depois), a TV foi
evoluindo aos poucos conquistando uma legião de telespectadores que,
além de poder ouvir, viam os artistas, filmes e produtos, atraindo mais
“Em termos publicitários o rádio perde o duelo para a TV, sendo
os anos 60 os piores de sua existência. O desinteresse do anunciante se
reflete nos criadores de spots e jingles, notando-se a perda de qualidade”
No rádio, o medicamento reinava absoluto como anunciante, o
mesmo não acontecia na TV. No final da década de 60 caia, ainda mais, o
número de medicamentos anunciados livremente, fato ocorrido entre os
anos 50 e 70 devido a introdução do mercado de produtos éticos:
ansiolíticos, antipsicóticos e pílulas anticoncepcionais, deslocando o
consumidor diretamente para o consultório médico (TEMPORÃO, 1986,
1970 até os tempos atuais “Se é Bayer é bom”
Apesar de ser encontrado nos anúncios de arquivo de 1919, o
slogan da Bayer até hoje é um dos mais lembrados em testes de recall
Anos 70, período de “pra frente Brasil”, bossa nova, liberação
sexual, ditadura, censura.Em meio a tudo isso a TV transformava-se no
grande veículo de comunicação de massa. O que era anunciado na TV
passava a ter credibilidade. O rádio tentava sobreviver e os outros meios
tentavam arrumar caminhos diversos de sobrevivência. Aos poucos a
convivência entre esses meios passou a ser harmoniosa, cada qual
Em 76, o medicamento passava a ter uma divisão distinta
provocada pela Lei da Vigilância Sanitária nº 6.360, de setembro,
proibindo a veiculação de anúncios de medicamentos éticos (tarjas
vermelha e preta) na mídia de massa, restringindo-os aos propagandistas e
publicações específicas dos laboratórios da indústria farmacêutica.
Apenas o medicamento de venda livre (OTC - Over the Counter) podia
ser veiculado livremente na mídia de massa (OLIVEIRA, 1998).
Com isso, a propaganda de medicamentos passava a ser
segmentada: os éticos, às revistas para médicos e os de venda livre à
população, com uma linguagem bem popular.
Segundo Temporão (1986, p 67) a partir de 1978, acontecia a
retomada de crescimento das práticas promocionais da indústria
farmacêutica. As especialidades mais anunciadas passavam aos
analgésicos, vitaminas, fortificantes e emagrecedores. “Com a televisão a
publicidade eminentemente informativa passava à publicidade valorativa,
onde os componentes escritos são dominados pelos icônicos”. Ou seja, na
mídia impressa, os textos e as ilustrações conseguiam passar um certo
entendimento, mas não tinham tanto alcance como no rádio. Já a TV
atingia grandes contingentes da população, mostrando o produto e
demonstrando o seu uso, o que colocava a propaganda não apenas como
instrumento de persuasão, mas também exercendo uma função educativa,
informando sobre a doença e o uso correto do medicamento.
Ainda para Temporão (1986, p 68) “Nesse período, o slogan se
mantém não mais como sustentáculo básico de Marketing, mas apenas
como mais um figurante diante da imagem e de suas possibilidades
Na década de 80, conhecida também como a década da
transformação (Adeus ao militarismo, Diretas já, Plano Cruzado,
Constituição de 89, etc) a propaganda caminhava lentamente.Nessa
década surgiram grandes campanhas institucionais, principalmente na
área da saúde. Em 85, a indústria farmacêutica chegava a ocupar a 8ª
posição de maior anunciante do Brasil, sendo o Grupo Dorsay “tomou
Doril a dor sumiu” o maior do setor.
Com a década de 90, novas mudanças. Agências brasileiras
associavam-se com estrangeiras e os produtos importados entravam no
país com força total, inclusive medicamentos, acirrando a concorrência no
Apesar da existência do Conselho Nacional de
Autoregulamentação Publicitária, o CONAR, que visava normatizar a
atividade publicitária, evitando abusos nas mensagens, só em 1992, surgia
o primeiro caso de punição de publicidade de medicamento, gerando
modificação no anúncio de Biotônico Fontoura.
Com a publicidade de medicamentos dividida em ético e OTC, a
mensagem publicitária diferenciava-se para médicos, em revistas
específicas e para a população, na mídia de massa.
Sendo assim, é relevante destacar alguns slogans atuais: de
medicamentos éticos: Artren “ainda não pintou antiinflamatório tão
eficaz”; Trofodermin “por onde passa, cicatriza”; Capoten “a terapia
indispensável”; Nisulid “o antiinflamatório que faz sucesso no mundo”;
Gopten “vai fundo no controle da hipertensão” e de medicamentos(OTC)
de venda livre: Doril “tomou Doril, a dor sumiu”; AAS “pureza máxima
que faz”; Neosaldina “a dor de cabeça passa logo de cara”; Estomazil “é
plá, plum”, Anador “ a marca do alívio”, e outros.
Nos tempos atuais, é notória a presença da linguagem coloquial na
história dos slogans, tanto em medicamentos éticos, quanto nos OTCs, e
mesmo quando ainda não havia essa divisão, o slogan sempre foi popular,
repetível e repetido pelas pessoas, acompanhando as marcas dos
medicamentos, através de frases marcantes e persuasivas.
Em tempos de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), muito
tem preocupado a indústria farmacêutica, que além de ser acusada de
formadora de cartel, tenta zelar pelas marcas tradicionais do mercado de
medicamentos, mesmo reconhecendo que é inevitável a chegada dos
genéricos (que além de não terem marca comercial, chegam a ser 30%
mais baratos por não investirem em propaganda), aprovados pela Lei
Em virtude desse fato novo, a propaganda de medicamentos
deverá sofrer mudanças, passando a ser controlada pela Agência Nacional
de Vigilância Sanitária, com o intuito de disciplinar, coibir abusos e
estabelecer padrões éticos nas mensagens publicitárias veiculadas pela
mídia de massa, trabalho que já é realizado pelo Conselho Nacional de
Sendo assim, não só as marcas do setor farmacêutico deverão
sofrer mudanças, como as mensagens publicitárias, onde inclui-se o
Slogan, quetambém é conhecido como frase de efeito,
instrumento persuasivo, lema e até como apelido pragmático do nome
próprio, como Lefèvre refere-se ao slogan no seu “ Mitologia Sanitária -
saúde, doença, mídia e linguagem”, quando argumenta que expressões
metonímicas como “ a dor sumiu” dizem muito mais que um simples
nome da marca (LEFÈVRE, 1999) e que por sua importância é parte
integrante da propaganda no país e merece destaque nos Cem Anos de
Propaganda de Medicamentos no Brasil. Referências Bibliográficas:
CASTELO BRANCO, Renato, MARTENSEN, Rodolfo Lima e
REIS, Fernando, coords. História da Propaganda no Brasil. São Paulo:
GIL, Antonio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São
GODOY, Arilda Schimidt. Introdução à pesquisa qualitativa e
suas possibilidades. Revista de Administração de Empresas. São Paulo,
IASBECK, Luiz Carlos Assis. “ A arte dos slogans” – In: PINHO,
J.B. (org) Trajetória e Questões Contemporâneas da PublicidadeBrasileira”. São Paulo: Intercom, 1998.
LEFÈVRE, Fernando. Mitologia Sanitária – saúde, doença, mídiae linguagem. São Paulo: Edusp, 1999.
OLIVEIRA, Juarez. Código de Proteção e Defesa do Consumidor.
PINHO, J.B. O poder da marcas. São Paulo: Summus,1996.
RAMOS, Ricardo e MARCONDES, Pyr. 200 Anos dePropagandano Brasil. São Paulo: Meio e Mensagem, 1995.
SGANZERLA, Valquiria. Os primeiros 50 anos. Especial: Um
Século de Propaganda. São Paulo, Meio e Mensagem, abril/99, p 5.
TARSITANO, Paulo Rogério e FEITOSA, Ercília Pouças.
“Anúncios – Espelhos da História Social, Política e Econômica
Brasileira”. In: PINHO, J.B. (org.) Trajetória e QuestõesContemporâneas da Publicidade Brasileira. São Paulo: Intercom, 1998.
TEMPORÃO, José Gomes. A Propaganda de Medicamentos e oMito da Saúde. Rio de Janeiro: Graal, 1986.
Gambia: Psychiatrische Versor- gung Auskunft der SFH-Länderanalyse Einleitung Wir gehen aufgrund Ihrer Anfrage vom 17. Juni 2008 von folgendem Sachverhalt aus: Herr T. aus Gambia stammt aus einer eher armen Familie und stellte in der Schweiz ein Asylgesuch. Er heiratete im Jahr 2004 eine Schweizer Bürgerin. Im April 2004 wurde er erstmals (für zwei Monate) psychiatrisch hospita
Biomedical Research 2012; 23: SI 17-23 Special Issue: Cancer Metabolism In memory of Erich Eigenbrodt New Horizons in Cancer Therapy: Manipulating Tumour Metabolism. Sashidhar Yeluri, Brijesh M Madhok, David G Jayne. Division of Clinical Sciences, Leeds Institute of Molecular Medicine, St. James’ University Hospital, Leeds, UK. LS9 7TF, UK Abstract Otto Warburg